sábado, 9 de fevereiro de 2008

A Cadeira Extra - Ana Lidia Pimentel

Nasci igualzinha às minhas sete irmãs. Num total de oito, éramos muito orgulhosas de nossa linhagem, afinal de contas, nascemos por encomenda. Made in Brazil sim, mas no século XIX!
Uma coisa que nunca entendi em criança era o porquê de sermos oito, se à volta daquela linda mesa de jantar de mesma origem e idade, só ficavam seis de nós. Duas de nós sempre ficavam nos cantos da sala de jantar, geralmente ladeando um belíssimo aparador. Depois descobri que eu era uma cadeira extra. Se aparecesse visita, lá estava eu, pronta para acomodá-la. Ainda posso sentir o cheirinho daquelas comidas deliciosas. Poucas vezes provei delas e assim mesmo através de pedacinhos que caíam acidentalmente sobre mim devido à imperícia das crianças no manuseio dos talheres. O Pai sentava-se à cabeceira, duas meninas de um lado e dois meninos de outro. Na outra cabeceira sentava-se minha dona, mãe e esposa amantíssima. Como era gentil aquela senhora, uma dona-de-casa para ninguém botar defeito. Nunca nos arrastou ao sentar-se à mesa. Já com as crianças, era um terror. Acho mesmo que ficamos mais baixinhas de tanto que nos arrastavam fazendo uma verdadeira raspagem em nossos pés. As nossas pernas ficavam bambas e nossa dona por incontáveis vezes teve que chamar o Sr. Antônio, o marceneiro, para consertar-nos. O Sr. Antônio era um homem grande de longos bigodes e um forte sotaque. Era português de origem, mas já estava no Brasil há muitos anos, muito embora o sotaque permanecesse intocado. Apesar de ser corpulento, o Sr. Antônio era gentil. Tratava-nos como se fossemos rainhas. Enquanto trabalhava, elogiava a madeira de que éramos feitas e o capricho de quem nos criou. Costumava dizer: - Nem parece que foram fabricadas cá no Brasil. Podem ter sido feitas aqui, mas com certeza, por algum patrício meu -. Não fosse pelo zelo da arrumadeira, eu jamais teria sabido o que era ser uma cadeira da mesa de jantar. Teria sido sempre a cadeira extra, a cadeira do canto, a cadeira do aparador.
D. Filomena, também portuguesa, mas quase sem sotaque, era muito caprichosa em seus afazeres. Ela fazia o rodízio das cadeiras para que nenhuma ficasse mais desgastada que as outras. A pobre criatura sofria de terríveis dores nas pernas devido às varizes. Depois que ela limpava e arrumava a sala de jantar, ela sempre se sentava em mim ou na minha irmã do outro lado do aparador e descansava as pernas um pouquinho. Também era ela quem chamava minha dona para mostrar a necessidade deste ou daquele reparo. Ah! Que tempo bom era aquele... A família toda reunida em torno da mesa de jantar (que também era de almoço, lanche, ceia...).
Lembro-me bem do primeiro grande golpe de minha vida. Foi bem no finalzinho do século XIX. Minhas irmãs e eu ainda éramos jovens. Seria uma manhã como outra qualquer, não fosse o entra e sai de gente que nós nunca tínhamos visto antes. As crianças fizeram o desjejum na cozinha e logo foram mandadas para a Fazenda da família acompanhadas pelas amas e por dois dos mais antigos e fiéis empregados da família. Mas... O que estava acontecendo? Ninguém vinha à sala de jantar. Todos sussurravam. Eu não conseguia ver nem ouvir nada, mas sabia, ou melhor, sentia que algo estava acontecendo. Finalmente D. Filomena, que tinha o hábito de falar consigo mesma, entrou na nossa sala para a limpeza e arrumação habitual. Ela não só resmungava, mas também parecia estar chorando - Valha-me minha N. S. das Graças! Se o patrão não agüentar... O que vai ser desta família? Ó raios! Mas como é que ele foi pegar esta tal de gripe espanhola?
Duas semanas se passaram e o nosso dono não melhorava. Os médicos já não tinham esperanças. Muito enfraquecido pela doença, nosso dono não resistiu e morreu.
Nossa dona estava triste como jamais havíamos visto. Mandou buscar as crianças na fazenda e logo que eles chegaram receberam a triste notícia. Choraram. Choraram muito. Choraram até que o sono viesse para aliviar aquela dor imensa em seus coraçõezinhos. Nós, firmes por natureza, também entristecemos.
Mais uma de nós deixaria de ser ocupada durante as refeições.
Estranhamos muito o fato de que a primeira vez que fomos usadas depois do falecimento do nosso dono não foi numa refeição. Eles chamaram aquela reunião de Leitura do Testamento. Foi depois daquele dia que nossas vidas mudaram completamente. Pelo que pude entender a família, que tinha seus proventos oriundos da plantação de café e de algum gado leiteiro na fazenda, não ficou em boa situação financeira. Sem liquidez, diziam. Nossa dona resolveu vender a casa da cidade e ir morar na fazenda, para poder administrar mais de perto os cafezais e o gado.
E assim foi. A casa foi vendida. Porteira fechada, diziam. E, como nós estávamos dentro da porteira, nós ficamos.
A nova família que ali se instalou era formada por um jovem casal e dois filhos gêmeos de aproximadamente quatro anos de idade. Os nossos novos donos pareciam ser ricos mas com certeza não tinham a mesma educação que os antigos. As crianças não tinham limites e mexiam em tudo. D. Filomena, que também ficou dentro da porteira, se desesperava. Nós oito, agora mais experientes e sofridas, lamentávamos a nossa sorte. Os gêmeos endiabrados gostavam de sentar nas cadeiras que ladeavam o aparador. Pisavam na palhinha do assento, pulavam, sacudiam o encosto e até faziam xixi sobre nós duas.
D. Filomena vinha, limpava e resmungava: - Esses “putos” vão dar cabo da mobília-! O Sr. Antônio foi chamado várias vezes, mas os guris, cada vez mais encapetados, não tinham sossego.
A mãe não gostava de amas e nem de governantas dizendo que ela mesma queria se encarregar da educação dos filhos. O que ela não sabia é que não se pode dar o que não se tem. Numa das vezes em que o Sr. Antônio foi chamado, ele falou à nossa nova dona que era uma pena que cadeiras e mesa de tão boa qualidade estivessem tendo aquele tratamento. Reconhecendo que os filhos eram bastante “agitados”, nossa dona resolveu comprar um cachorrinho para os garotos. -Quem sabe assim eles se dedicam ao cachorro e esquecem a mobília-?
Lembro-me de ter pensado que eles não só não esqueceriam a mobília como também iriam fazer do cachorro ou um mártir, ou um louco. A segunda opção prevaleceu. O cachorro era quase tão doido quanto os garotos. Não demorou muito para o cão começar a urinar em nossas pernas. O tempo foi passando. D. Filomena pediu as contas e nós estávamos arriscadas a apodrecer a poder de mijo. Mas o pior ainda estava por vir. O cachorrinho endiabrado começou a roer as minhas pernas .
Por que só as minhas pernas? Não sei e nem nunca fiquei sabendo. Minhas pernas ficaram tão roídas e tão feias que minha nova dona me retirou da sala de jantar. Aliás ela retirou minha irmã que ficava do outro lado do aparador também. Fomos morar num quartinho de guardados. O quartinho era uma bagunça, mas pelo menos estávamos livres dos garotos e do cachorro.
Meu Deus! – eu dizia à minha irmã - Que diferença da nossa antiga dona!
Acho que ficamos ali no quartinho por alguns anos.
Um dia, ouvimos a voz do Sr. Antônio. Sim, sim! Era ele!
Abriu a porta do quartinho em busca de um pedaço de madeira com o qual pudesse consertar algo que os gêmeos, mais velhos, mas não menos endiabrados, haviam destruído.
Ao nos ver ali dentro e naquele estado, o Sr. Antônio ficou desconsertado.
- Mas o que foi que fizeram a estas cadeiras meu Deus? Isto é um pecado -!
Ele aproximou-se mais e avaliou os estragos. -Isto é um pecado! Vou ver o que se pode fazer -. Pegou o pedaço de madeira que precisava e saiu. No fim do dia, o Sr. Antônio voltou ao quartinho . Pegou – nos em seus braços ainda muito fortes e nos levou para fora.
-Ó minha senhora, a senhora não quer me vender estas duas cadeiras?
– Vender? – perguntou ela.
-Pois sim , vender!
_ Bem... mas... eu não sei quanto elas valem.
- Valem muito minha senhora. Mas, no estado em que estão, há que se gastar bastante dinheiro para recompô-las.
-O senhor quer trocá-las pelo serviço que acabou de executar?
-Negócio fechado.
E lá fomos nós para a oficina do Sr. Antônio. Lá, ele cuidou muito bem de nós. Trocou minha perna roída por uma nova da mesma qualidade de madeira, que ele mesmo confeccionou. Chamou o homem que colocava palhinha e trocou as nossas palhinhas dos acentos e dos encostos. Deu lustro na nossa madeira e... Voilà! Estávamos novinhas outra vez. Quanta felicidade. Que homem generoso era o Sr. Antônio. Ficamos algum tempo morando na oficina até que um dia o nosso benfeitor levou lá um homem muito bem educado e culto que, só de nos ver, disse o ano de nosso nascimento, estilo, tipo de madeira, etc. Olhou detidamente para mim e para minha irmã. Acho até que ficamos um pouco encabuladas. Depois, disse assim- Fico com elas Antônio. Elas valem o preço que você me pede e eu pagarei feliz. - Apertaram as mãos e lá fomos nós duas morar na casa do tal senhor. Chegando lá, descobrimos que não era a casa dele, mas uma loja muito bonita cheia de objetos e móveis que pareciam ter e tinham estirpe. Era um antiquário. Nessa loja só entrava gente muito fina e de bom gosto. Quando nos olhavam sempre elogiavam. Aquilo nos fazia bem depois de tantas desventuras.
Era bom estar ali, mas nós sabíamos que aquele não era o nosso lar definitivo, pois víamos que os objetos e móveis eram vendidos, trocados ou comprados, dia a dia. Alguns anos haviam se passado, quando um dia, uma jovem senhora muito distinta entrou na loja e dirigiu-se ao patrão perguntando se ele não teria ali cadeiras, assim, assado... Ele imediatamente apontou para nós. Aproximando-se, a tal senhora exclamou: -Exatamente o que eu estava procurando! Vou levar-! Sem fazer questão de preço, a distinta jovem senhora nos colocou em um carro e nos levou para nossa nova casa. Era uma casa grande e bem cuidada que lembrava a nossa primeira casa. Não havia crianças. Só ela e a mãe. A senhora mãe me era tão familiar... Um dia, minha irmã e eu a ouvimos contar à filha, como a gripe espanhola havia matado seu pai e como eles foram viver na fazenda com a mãe... Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Mas, era fato. Aquela velha senhora era uma das meninas da nossa primeira família. Quanto tempo havia passado? Quanto mais ela falava de sua infância, mais certeza eu tinha. Era incrível! Muito tempo havia passado.
Como éramos apenas nós duas, não fomos colocadas na sala de refeições e sim na sala de estar fazendo conjunto com um sofá que sem dúvida era nosso parente. Mesma madeira, mesmo estilo... Sim, era nosso primo. Tanto ele quanto nós gostamos muito desse nosso encontro. Estamos até hoje nessa mesma família. Hoje, uma outra geração.
Mas a mesma família. Moramos, agora, na casa de uma das bisnetas daquela velha senhora cuja filha nos resgatou.
E assim, acaba esta estória que comprova que o mundo é pequeno, redondo e dá voltas. O que vai acontecer daqui pra frente, eu conto numa próxima vez.

Opereta litorânea - Eugênia Kós

Tudo aconteceu em Mucuripe, terra de jangadas.
Não encontrei mais o Zé, mas lembro que ele sempre preferiu as canoas.
Zé era um sujeito solitário, feliz da vida e do seu oficio. Seu melhor amigo era um vira-latas magricelo chamado “Palito”, ambos viviam numa casa avarandada na boca de um rio que terminava na praia.
Sou um chapéu cheio de memórias e nasci da palha verde trançada pelas mãos habilidosas desse homem, o famoso “Zé dos Chapéus”.
Todos os dias ele e Palito tomavam a “Escurinha” e subiam o rio para colher a palha. A dupla começava a trabalhar tão cedo que nem dava tempo de peixe acordar. Zé remava a canoa rio acima e Palito fazia seu papel de proeiro latindo bons-dias aos frangos d’água madrugadores.
A palha era perfumada de maresia e orvalho e a canoa chegava carregada aos varais toscos montados na praia. Daí Zé espalhava as folhas, sem quebrar nenhuma, para secar ao vento sob a sombra dos coqueiros.
Palito corria pela areia entusiasmado com os siris, enquanto Zé jogava os robalos distraídos de volta ao mar. Ele só fazia exceção aqueles do tamanho da sua fome, esses iam para a frigideira. Já Palito, preferia os siris.
Mas voltando aos chapéus... A palha rústica ficava macia e obediente aos tratos do Zé e suas mãos trabalhavam tão depressa que quem tentasse copiar não conseguiria! Ele fazia chapéu de todo gosto e ninguém sabia de onde ele tirava as modas, as invenções saíam de sua cabeça.
Alguns ficavam feios porque, afinal, ninguém é perfeito. Esses viravam, invariavelmente, brinquedos do Palito, que se divertia correndo com eles pela praia, rasgando e roendo até que não sobrasse nada que manchasse a fama do Zé Chapeleiro.
E havia o xodó do Zé, o mais bonito de todos, sua obra-prima. Era o “Domingueiro”. Tinha até lugar especial dentro do armário! Era feito de palha muito fina e maleável, cor de charuto. Tinha uma fita marrom contornando sua copa amassada e suas abas eram perfeitamente quebradas. Aquele era um chapéu de categoria!
Eu também sou um chapéu muito bonito e especial. Zé não se apressou em mim. Minha copa saiu tão trabalhada como renda de bilro e tenho abas muito grandes e onduladas.
Tudo por causa do coração de Zé.
Num dia ensolarado, na saída da missa, Anália, a moça mais linda da cidade suspirou um “ai… preciso tanto de um chapéu…” tão próximo do seu ouvido e com tamanha irresponsabilidade que descompassou o bom coração do chapeleiro e o fez sentir uma necessidade urgente de fazer chapéu lindo, só para ela.
Sem coragem de perguntar o nome da bela decidiu que ela seria “Marisol”!
Por isso Zé escolheu e caprichou nos tratos da minha palha ruiva. Deixou-a tão fina e macia quanto imaginou que os cabelos dela deveriam ser.
Depois passou dias em silencio, matutando, impaciente. Caminhava para lá e para cá moendo o chão de conchas do galpão que também era a sua casa. Café quente e coração batendo, insone. Ele observava aquele amarrado de palha cheirosa que o aguardava silenciosa e passiva, repousada sobre sua mesa. De repente iluminou-se e começou a trançar a palha freneticamente.
Palito ao lado do fogãozinho a lenha observava tudo quieto, orelhinhas em pé, mas sem ousar fazer um movimento.
As mãos mágicas do Zé obedeceram cuidadosamente à suas invenções.
Finalmente fiquei pronto! Com um longo suspiro Zé me pousou sobre a mesa da sala e foi descansar.
No dia seguinte arrebanhou um bocado de papel cinza de padaria, formou um bolo e preencheu o vazio da minha copa.
-“Para te proteger” - ele falou para mim, baixinho, com muita intimidade.
Ficou, por alguns minutos, me olhando em silencio como numa despedida, me abraçou de encontro ao seu peito suspirando e me acariciou demoradamente. De repente me afastou e deu tapinhas na minha copa como se eu estivesse empoeirado.
Com as mãos alisou as folhas de papel restantes, me embrulhou com cuidados de balconista, como se eu fosse presente de loja, e finalmente me ajeitou dentro de uma sacola de supermercado.
Fiquei ali, esperando sobre a mesa até o domingo.
No dia da missa Zé abriu o armário e tirou de lá o chapéu Domingueiro. Depois “vestiu uma calça nova de riscado, paletó de linho branco, que até o mês passado lá no campo ainda era flor...” bem devagar Intrigadíssimo, Palito observava tudo de perto, abanando o rabinho magro, intuindo que aquele era um dia muito importante.
Zé se olhou no espelho, barba feita e cabelos penteados, ajeitou o Domingueiro na cabeça puxando a aba sobre os olhos e foi para a cidade esperar por ela. Na praça escolheu um banco com vista privilegiada.
Ficou lá.
Sentado no banco.
No banco da praça embaixo do Flamboyant florido.
Aquele bem defronte à porta da Igreja.
Esperou olhando fixamente para a porta.
E ela apareceu! Depois da missa.
O coração do Zé disparou de tal forma que ele ficava só engolindo para que esse não saltasse peito afora.
Maravilhosa, Marisol brotou abençoada, da penumbra da igrejinha, depois da missa, perdoada de qualquer pecado. Com as mãos vinha protegendo os olhos da luz de um sol aberto. Por um instante parou do lado de fora, até se acostumar à luminosidade, e um vento atrevido levantou suas saias revelando as belas pernas morenas.
Ela começou a descer... Devagar... Cada um dos cinco degraus da escada santa... Alternando as pernas... O vento também desarrumava seus cabelos... Ela se aproximava cada vez mais de um Zé apatetado.
Zé imaginou, de longe, cada um dos dedinhos dos pés de Marisol porque não ousava levantar os olhos. Ela estava a menos de três metros dele! Uma carroça vinha passando e ela parou, precisou esperar na calçada para atravessar a rua. A carroça demorou uma eternidade, passou muito devagar. Um burrico branco na frente, algumas moscas em cortejo, um carroceiro, seu chicote inútil e rodas resmungando sobre os paralelepípedos da Rua da Matriz...
Zé devaneava imaginando o delicado par de sandálias de verniz branco, o cor-de-rosa das unhas cintilando… e sentiu um perfume de jasmim…
Num estalo se deu conta de que Marisol já estava do seu lado.
Levantou-se completamente sem discurso, a firme mão direita tirou o “Domingueiro” da cabeça e a outra me ofereceu a ela.
- “Para mim?” perguntou surpresa, pousando a mão esquerda entre os seios.
Zé, mudo só balançou a cabeça afirmativamente.
Numa cena deslumbrante, sem hesitar, a bela sentou-se no banco de pedra derramando, com barulhos de mar, a saia branca de tafetá arrematada por uma renda que, bem que poderia ser, a espuma das ondas. Cruzou as pernas e me desembrulhou espalhando os papeis e os sentimentos do Zé no vento.
Irresponsavelmente maravilhosa.
Ele sorriu.
Ela sorriu.
O vestido, os dentes, os olhos... Tudo nela refletia a luz do domingo. Marisol brilhava...
Me viu e me aconchegou junto ao coração, depois me afastou olhando-me com muita atenção, virou daqui e dali, me afagou, me amassou, me arranhou, cheirou e deu uma mordidinha na minha palha macia, depois olhou para o Zé sobre as minhas abas e sorriu para ele, em aprovação.
Num pulo levantou-se do banco da praça e estendeu-me para que Zé me segurasse enquanto prendia os cabelos num rabo de cavalo. Depois pediu que ele me ajeitasse na sua cabeça e sussurrou.
- “Ah, Zé, que lindo!!! Muito obrigada!”
Esticou-se na ponta dos pés, eu na cabeça, abas seguras nas mãos para que eu não escapasse ao vento e deu um beijo no rosto do Zé embasbacado.
Ele quase desmaiou.
A bela levantou-se e tomou seu rumo devagar.
Seguiu cantando feliz, sobre as longas pernas que o vento insistia em mostrar, com a cabeça ainda mais fresca, distraída, irresponsavelmente transformando toda a existência, levando com ela o bom coração do Zé...
- “Eu vou pra Maracangalha, eu vou… eu vou com chapéu de palha, eu vou…”
Em tempo, Caymmi e Belchior são compositores de “Maracangalha” e “Velas do Mucuripe”, respectivamente, e estavam na praça bebendo uma água de côco. Maravilhados, presenciaram a cena e combinaram de transformar essa história de amor numa opereta, mas ainda não tiveram tempo.
Também discutiram o projeto com o Bruno Barreto, mas quem está mesmo interessado em transformá-la em filme é o Cacá Diegues!

COLAGEM DE 1958 - Wilma Casari Kós


Rio, 26 de janeiro de 1958 . No Leme

Quando parei de chorar peguei um espelho e esgotei todas as caretas que sabia fazer.
Nenhuma conseguiu esconder esta minha aparência miserável.
Sento-me á mesa para tomar café. Café ou suco de laranja? Bolacha ou torrada? Manteiga ou requeijão? Tanto faz.
Carrego uma podridão interna desde que nasci. E se ela agora resolveu aparecer na minha cara, não posso dizer que a causa foi por alguma coisa que devo ter comido.
Será inútil escolher criteriosamente o que comer neste momento ou o que comerei mais tarde. Portanto, tanto faz.
Sei muito bem que o código da minha vida, o código da vida de toda a humanidade já foi traçado por Deus e seus delírios, desde sempre. Antes mesmo da era da turbulência jurássica.
Ontem, depois de estudar toda a bateria de exames, radiografias e etc, meu médico foi frio e objetivo ao dar o diagnóstico: - Para o seu caso a cirurgia é aconselhável porque, como o problema foi detectado cedo, a reparação é quase certa.
Quase? Essa palavra me deixou fora de órbita por alguns segundos, mas felizmente meu guardião de memórias veio em meu socorro liberando antigas cenas da infância:
Infância onde Teresa e eu, a menina que roubava livros da livraria do seu Genaro éramos unha e carne.
Seu Genaro era o dono da papelaria-livraria-armarinho da nossa cidadezinha. Lá os meninos compravam papel de seda colorido para fabricarem suas pipas. Mas por razões que não lembro mais, o único lugar onde eles conseguiam empina-las era na praça, enfrente á porta da loja. “Na sombra do vento” como eles diziam.
Nas horas de maior empolgação, com todos empenhados nas batalhas aéreas, seu Genaro aparecia de surpresa e cortava os fios das pipas, Muitas se perdiam, outras se arrebentavam no chão, mas o velho ranzinza conseguia confiscar algumas. Levava-as para dentro da loja e nunca devolveu nem uma sequer
Porisso nós duas o apelidamos de “O caçador de pipas”.
Onde está Teresa e sua bússola de ouro para me levar de volta à cidade do sol?
Odeio objetividade porque ela nos afasta da realidade. Nelson Rodrigues compara a objetividade a uma lavadeira que, com as mãos afundadas no tanque, ouve uma gritaria ao longe. Larga o sabão e vai correndo até o portão para saber o que está acontecendo. O que vê é apenas um homem baixinho espiando por um binóculo. Entediada volta para o seu objetivo que é o de lavar roupa suja. Por estar concentrada na espuma de sabão, ela deixou de assistir ao momento histórico que foi o de Napoleão perdendo a batalha de Waterloo. A santa mulher não vê nem batalha, nem Napoleão. Só vê o que quer ver: sujeira, água e sabão.
Se Deus tivesse me designado para nascer no signo de Capricórnio, eu hoje estaria destinada a ter muita animação na minha vida afetiva. Teria um aumento na auto-estima. Minhas horas seriam preenchidas com romances, festas e lazer. Encontraria pessoas interessantes, agradáveis e dispostas a bater um bom papo comigo.
O meu médico não é nem interessante, nem agradável. Não está disposto a bater um bom papo e muito menos me ver como pessoa. Para ele sou apenas mais um Napoleãosinho doente lutando a sua batalhazinha. Concentrado atrás de uma luneta âmbar ele tenta penetrar para além das fronteiras do universo do meu corpo. Só pensando no dia em que, com sua faca sutil, arrancará dali mais um tesouro para a sua coleção de relíquias da morte.
Leio na seção de Horóscopos do jornal que o aconselhamento para meu signo é:
Saturno aparece como um pensamento cobrador que bate à sua porta para acertar as contas pelos seus atos passados. Não discuta, pague logo.
Acontece que o meu signo é Sagitário, infelizmente


Rio, 10 de fevereiro de 1958. Na casa de Saúde São José.

Mãos que se aproximam, apertam as minhas e se perdem. Gente de névoa.
Abro os olhos ou ... serei eu me abrindo todinha entre as pálpebras dos lençóis?
Vejo que hoje é noite de lua cheia. Ela entra pela janela derramando um leite branco- azulado sobre a minha cama.
Lembro da cirurgia.
Passo a mão de leve pela cicatriz e desejo angustiadamente um novo corpo.
O médico entra . Seu jaleco não tem mais no peito a grande flor vermelha estampada que eu vi, vagamente, no centro cirúrgico.
Tento afastar seu estetoscópio do meu peito, com medo que ele possa escutar meus pensamentos.
A enfermeira está sendo repreendida pelo Dr. Importante.
Sinto suas mãos tremendo como um terremoto enquanto ela mede meu pulso...
...já consigo levantar da cama e fico horas encostada na janela do quarto contemplando o ritmo da vida lá embaixo.
Meus passos trôpegos me levam até a porta e, surpreendida vejo que consigo abri-la sem esforço.
Mas... meus olhos desanimados medem o longo corredor.

Dia 15 de fevereiro de 1958, Ainda na casa de Saúde São José.

Fico cada dia mais cansada, mas não tenho sono. Quando a auxiliar entra com o almoço abro a boca num falso bocejo, num sono fingido.
São artimanhas tentando encobrir maus presságios.
Nesta manhã sinto no ar um clima diferente. Dr Importante deixou-se ficar mais tempo ao meu lado e senti pelo seu modo de olhar que ele finalmente viu em mim uma pessoa! Será que o tumor extirpado atrapalhava tanto assim sua percepção?
Engraçado... o dia está escurecendo tão depressa...
Na parede enfrente à minha cama tem um quadro representando uma montanha, e de repente sinto a montanha pesando no meu peito.
Minha cabeça parece um barranco em que a terra vai desmoronando devagarinho.
Apoiados em suas bengalas, papai e mamãe surgem através de um quarto sem luz.
Rindo tento pegar os dois no colo e começo a chorar comovida com tanta leveza.
À minha volta muita gente, todos no mesmo rumo.
A enfermeira aflita apertando meu pulso e murmurando baixinho: Não vá ainda, não vá embora...
. Meu coração sai pela boca e fica ao lado da cama só observando...Porque tanta correria?
Dr. Importante, usando novamente o jaleco com a flor vermelha tenta levantar a minha cabeça.
Coitado... seu dia hoje foi cheio de frustrações.
Antes de chegar ao hospital pela manhã assistiu aquele acidente que deixou um menino morto. Tinha sido atropelado minutos antes e estava estendido no asfalto ao lado de uma bicicleta nova. Tão franzino, tão desamparado... Ainda latejante o sangue à sua volta parecia abraça-lo com braços de mãe...
E agora posso sentir o quanto está preocupado comigo. Sei que tem dúvidas sobre se deveria ter feito a cirurgia ou não. Sabia que meu caso era terminal e está pensando que talvez pudesse ter me poupado o sofrimento extra.
Se a mãe daquele menino pudesse prever o futuro não teria comprado a bicicleta almejada por ele e nem permitiria que saísse de casa hoje com ela.
Um médico pode ter todas as armas, mas nunca conseguirá prever quem sairá vitorioso da batalha entre Vida e Morte.
Preciso lhe dizer que...quero avisar todo mundo que uma enorme ....uma onda maravilhosa está chegando... quero dizer que não se preocupem...que o mergulho será...
Abro muito os olhos num esforço para deixar-lhe a impossível última confidência.
Nada mais importa. O mergulho será inevitável.
Atravesso o quarto escuro e a onda me leva ao encontro da luz.


O médico pousa a cabeça da moça no travesseiro e fecha seus olhos, delicadamente, com numa carícia.
Levanta-se, abre a porta olhando o longo corredor e retorna, desanimado, com passos trôpegos até a janela do quarto. Apoiado no parapeito fica por longo tempo contemplando a vida lá fora.
Enquanto isso alguém que está na sala de espera lendo o jornal do dia, pega uma caneta e sublinha frases na sessão de horóscopos:
Talvez seu dia hoje não seja exatamente como os habituais.
Você entrará em sintonia com emoções que habitam regiões misteriosas e ocultas do seu psiquismo. Isso vai aborrecê-lo porque você detesta a impressão de falta de controle e entendimento racional. Mas não tenha receio. O mergulho nessa onda de sentimentos inexplicáveis vai lhe trazer uma grande revelação. Quando perder uma batalha lembre-se de que não perdeu a guerra

Da janela do quarto da moça morta o Dr. Antonio percebe o magnífico ipê no jardim com os galhos carregados de flores.Muitas delas já caíram no chão tranformadas num lindo tapete amarelo.
Ele não lembra que pertence ao signo de Touro mas, nesse momento aceita que o inexorável, contínuo e mutante movimento da natureza independe da vontade humana.
Das lindas flores do ipê algumas permanecerão nos galhos por mais um dia.
Outras não.

CHAPEU - Wilma Casari Kós

Ah!...até que enfim você lembrou! As fotografias estão aí para mostrar o quanto estive presente na vida de vocês. Estava na sua cabeça nessas fotos na neve em Interlaken.
Você está ao lado dele, mas quem está na sua cabeça sou eu!
Meu dono sempre foi um homem comedido em tudo. Não dançava, mas quando era obrigado a isso por circunstâncias sociais agarrava a dama, no caso sempre você, e corria pelo salão parecendo uma britadeira desgarrada.
Sorria mas não dava gargalhadas. E quando não conseguia se conter, segurava tanto o riso que ele saia pelos olhos todo espremido em lágrimas.
Era sempre o último a entrar e o último a sair de qualquer transporte, teatro ou restaurante, mesmo que tivesse lugar marcado ou reserva feita.
Em qualquer refeição passaria fome se você não o servisse.
Ao volante parava em todas as encruzilhadas que não tivessem sinal, dando passagem ao motorista que vinha em sentido contrário. Mesmo se a preferêncial fosse dele.
Apesar de ter um gosto literário e musical diferente do seu, não conseguia escolher nem livros nem cds sem que você o ajudasse.
Além dos filmes de ação, gostava também dos” quentes”, mas quem os escolhia na locadora era sempre você enquanto ele ficava passeando pelas alas dos” aceitáveis”, fingindo nada ver.
Comprar roupas, nem pensar Quando era absolutamente necessário fazê-lo, você fazia piada dizendo que ele deveria ter nascido em outra época e lugar uma vez que a sociedade atual não aceitava nudistas.
Então ele entrava nas lojas de emburrado, aceitava qualquer roupa que o vendedor lhe oferecesse, recusando-se a experimenta-las e quando chegava em casa nada cabia.
O único musical que assistiu sozinho foi o Man of La Mancha e eu já estava na cabeça dele porque nesse mesmo dia esse homem bonitão entrou na loja em que eu estava exposto, não consultou nenhum vendedor, me levou ao caixa resoluto, nem perguntou meu preço, (e olhe que eu era caro) pagou, e desse dia em diante só nos separamos uma vez.
Quando voltamos ao Brasil fiquei esquecido numa prateleira porque, como era um chapéu de lã não seria adequado para a viagem de trailer que a família fez ao norte durante as férias de verão. Mas não me incomodei com essa separação porque antes disso já estivera na sua cabeça em todos os acontecimentos que deixaram marcas tão profundas na vida dele.
Desde que voltamos de N.Y. naquela vez, sempre estivemos unidos para lutar contra os
moinhos de vento. Ele era o D. Quixote e eu me tornei o seu Sancho Pança. Inutilmente
tentando proteje-lo das traições de amigos e das injustiças cometidas pela situação
econômica de uma época que buscava bodes expiatórios para justificar sua incompetência no comércio exterior.
Acompanhei-o quando se apresentou voluntariamente em São Paulo onde ficamos presos por um mês. Quando teve ganho de causa recebendo como indenização as torres de torrefação de café da fábrica, eu estava ao seu lado. Nessa hora bem que tentei que ele me atirasse para cima como sinal de jubilosa vitória. Mas por desilusão ou cansaço o máximo que fez foi me tirar da cabeça por uns instantes e passar um lenço na testa cansada. O que é que ele poderia fazer com torres de café?
Já de volta em casa alguém precisaria acompanha-lo quando saia em missão, montado no Roncinante que era seu Fusca. Esse nobre fidalgo tinha começado a procurar a “impossivel estrela”.
E nessa busca angustiada ele comprou um Haras e vendeu um haras.
Construiu casas e vendeu casas.
Comprou uma fazenda, importou vacas de leite que morreram mordidas por carrapatos Plantou tomates, abóboras, milho...
E plantou árvores.
Dulcinéia que não era fidalga não via a mim como fiel escudeiro nem via a ele como o cavaleiro da triste figura.
Desde sempre ele foi seu príncipe que montava um cavalo branco.
Mas a realidade foi se fazendo presente porque devagarinho uma doença começou a Minar seu físico e sua mente.
D. Quixote não podia mais montar seu Roncinante.
Passou a fazer seus passeios matinais caminhando, apesar da dificuldade. Depois precisou da cadeira de rodas.
E nos cinco anos que se seguiram eu, seu Sancho Pança o acompanhei protegendo sua cabeça do sol e do frio.
Estava vigilante quando meu amo e senhor morreu num dia 11 de setembro, o mesmo Dia em que caíram as torres gêmeas. Sempre me pergunto se sua busca impossível terá terminado.
Como em vida optou pela cremação, suas cinzas serão espalhadas ao vento, lá no alto da estrada de onde se pode avistar seu castelo e seu Roncinante parado na garagem
E eu?Que será de mim? Não sou nada sem meu amo!...
A mulher se aproxima da porta carregando a urna que contém as cinzas do companheiro.
De repente lembra de alguma coisa, volta até o cabide onde está pendurado o velho chapéu.
Abraça-o com ternura, leva-o até a garagem, abaixa-se e cuidadosamente e o coloca no chão perto do fusca que foi também tão amado pelo seu marido.
Aproxima um fósforo aceso do chapéu e suas lágrimas não apagam as chamas, que crescem para cima chiando alegremente.
Agradecido irei encontrar meu amo e juntos cavalgaremos o capim até o lugar mais alto da montanha, lá onde a terra encontra o céu, único lugar onde ele alcançará enfim, a sua estrela impossível.

CHAPÉUS - Ana Lidia Pimentel

Olha aí minha gente! Nesse sol quente, não tem cabeça que agüente! Olha o chapéu! Era este o slogan do vendedor na praia. E eu, ali sentada num banco do calçadão, tomando minha água de coco, pensei comigo mesma: Chapéus... Chapéus... .
Um chapéu cobre e protege a cabeça da gente. Hoje em dia, quase ninguém usa chapéu, usam boné. Há alguns anos atrás, as senhoras não saíam de casa sem chapéu. Os homens, que então, ainda eram chamados de cavalheiros, quase sempre usavam chapéu. Charles Chaplin eternizou Carlitos com bengala, bigode e chapéu.
Churchil usava chapéu. Frank Sinatra também. A rainha da Inglaterra ainda usa chapéu.
Tira o chapéu para colocar a coroa. Será que coroa é um tipo de chapéu? E turbante?
É chapéu? Se turbante for chapéu, Osama Bin Laden usa chapéu. Não, Não, prefiro que turbante seja só turbante. Rodolfo Valentino usou turbante e chapéu. Greta Garbo também. Humphrey Bogart e Ingrid Bergman usaram chapéu em Casablanca.
Minha amiga Wilma escreveu um lindo conto sobre seu marido Arthur e seu chapéu.
Arthur é nome de rei e rei usa coroa, mas se quiser, também pode usar chapéu.
Chapéus... E se eu fosse um chapéu? Turbante do Bin Laden eu não quero ser.
Protetor, um chapéu deve proteger da chuva, do sol e até de titica de passarinho. Arrrg!
Homem careca quando põe chapéu fica mais moço. Moço careca, sem chapéu parece mais velho.
Mas e se eu fosse o chapéu do Frank? Será que eu cantaria como um Sinatra? O que será que sente um chapéu ao cobrir determinada cabeça? Será que assimila a personalidade do dono? Tão próximo do cérebro, não seria difícil escutar pensamentos,
descobrir segredos e antecipar intenções.
Engraçado como associamos a imagem de uma pessoa ao seu chapéu. Noutro dia encontrei na rua, o rapaz que sempre me atende na padaria. Sem o “bi-bico” quase não o reconheci.
Chapéu não é peça de vestuário, é complemento de personalidade.
Sim senhor, complemento de personalidade! Tire o chapéu de Santos Dummont e quem é que o reconhece?
Mas de Santos Dummont não se tira o chapéu, nós é que devemos “tirar o chapéu” pra ele!
Tem chapéu de todo tipo: chapéu coco... - Hihh! Minha água acabou! – chapéu Panamá, chapéu de palha, chapéu de Cow-boy igual ao que John Wayne usava , chapéu de malandro e o que mais se puder imaginar. Seja lá o chapéu que for, é complemento de personalidade. Eu insisto. Experimente colocar um chapéu coco em Santos Dummont, vai ficar parecido com Carlitos, não vai? Viu só! É complemento de personalidade.
Ai, que calor ! Minha água de coco acabou... Acho que vou comprar um chapéu. Cadê o vendedor? E se eu não achar um chapéu que combine com a minha personalidade?
Melhor não ser intransigente porque tá muito quente. Que tal... Chapéu é complemento de personalidade, dependendo das circunstâncias. Ah! Agora sim. Perfeito!
Cadê o vendedor?