sábado, 22 de dezembro de 2007

A cadeira de Gertrude – Heloisa Ausier

No final do século 19 apareci num pequeno sítio no interior de Minas. Nunca conheci minhas origens, mas isso nunca foi realmente importante pra mim. Me lembro bem da varanda onde ficava. Era uma casa de madeira que rangia aos passos dos moradores. Que som mais tenebroso! À noite ficava escutando os barulhos dos grilos e sapos e da coruja que morou lá numa viga, com os filhotes. O dono da casa, homem de seus quarenta e poucos anos tinha um gato que dormia no meu assento de palha. Um dia ouvi umas visitas falarem... _Que cadeira de balanço rústica _. Como nunca tinha ouvido aquela palavra, fiquei intrigada. “O que seria rústica, algum tipo de cor?”. Mas o que eu estava falando antes? Ah! do gato! O nome do gato era Gertrude. Aí vocês vão falar. _ Mas isso é nome de mulher _. Pois é... o pobre coitado continuou sendo chamado de Gertrude mesmo depois de saberem que era macho. E ele era o cara mais ranzinza desse mundo. Resmungava se alguém o tirasse da cadeira, resmungava querendo comida e resmungava se a cadeira não estivesse na posição certa na varanda. Isso porque ele gostava de assistir ao banho que os patinhos de um lago próximo tomavam todo dia. Acho que ele fantasiava como seria se conseguisse pegar um pato daqueles, mas nunca tentava de tão preguiçoso.
Eu ficava ali, balançando a cada movimento do Gertrude. Não me lembro de mais ninguém sentar em mim, o que me incomodava, já que as outras cadeiras da casa eram usadas pelos humanos. Será que humanos naquela época não sentavam em cadeiras rústicas? O cheiro da minha madeira já quase não se sentia por conta do odor do gato que prevalecia. E assim se passaram alguns anos. Quando Gertrude morreu, outro gato tomou seu lugar e assim continuei sendo usada apenas por felinos.
O século mudou e junto com ele fui parar numa casa de campo que era usada apenas em fins de semana. Foi aí que começou meu suplício. A casa ficava vazia de humanos durante a semana, mas os cachorros tomavam conta da varanda e inevitavelmente umas três vezes por noite eu levava uma mijada em uma de minhas pernas. Às vezes o jato era pequeno se o cão era baixinho, mas se era um grandão, me molhava até o assento. Fui ficando feia e sem vida. É claro que minha madeira era boa, senão não teria durado nem uma semana lá, mas mesmo assim, quem gosta de ser molhada a toda hora e ainda por cima com aquele odor desagradável. Um dia minha dona chegou para passar as férias e reparou que ninguém sentava em mim. Como eu tinha um jeito confortável, ela chegou perto de mim, e ao notar meu cheiro, mandou o empregado me colocar imediatamente no sol. Passei um dos maiores sufocos da minha vida. Ficava no sol o dia inteiro. Comecei a ficar esturricada como um frango no espeto. A noite voltava para a varanda e levava mais um jatos de urina dos cachorros. Todos os dias das férias de verão, passei por isso. Quando minha dona resolveu ir embora, vendo que meu cheiro não saiu, mandou me jogarem num depósito escuro de coisas velhas. Fiquei lá uns tantos anos junto a enxadas, pás e outras ferramentas que raramente viam a luz do dia. Vocês pensam que foi ruim? Que nada... esses foram bons anos. Só havia uma pergunta que eu me fazia constantemente. _ Porque os humanos não sentavam em mim?_
Minha dona ficou muito velha e a filha dela assumiu a casa. Um dia olhando os cacarecos, era assim que chamavam a todos que ficavam no tal depósito, minha nova dona se encantou comigo. Nessa época, depois de estar ali por mais de trinta anos, não havia mais cheiro ruim em mim. Pelo menos era isso que eu pensava. Fui parar numa sala muito interessante, onde pessoas eram atendidas pelo meu dono de hora em hora. Meus companheiros eram uma estante cheia de livros que vivia reclamando de suas prateleiras estarem muito pesadas, uma mesa com abajur, um tapete persa, uma poltrona, um divã e um quadro com uma foto de um velho de barba branca e óculos de graus redondos. Dou uma balançada para quem adivinhar o que meu dono fazia. Claro... era psicanalista! Mas vocês nem imaginam para que eu servia. Só sentavam em mim, aqueles que se recusavam a deitar no divã. Não era infeliz nessa época sabe por que? As pessoas que se deitavam no divã choravam muito deixando o pobrezinho encharcado de lágrimas, enquanto eu... pouquíssimas pessoas sentavam em mim e assim mesmo acabavam no divã. Parece que isso se dava no começo de uma tal de época de transferência. Muitas vezes tive vontade de perguntar ao meu dono o que eu tinha de errado por não merecer que todos sentassem em mim. Mas foi num dia que um cliente dele falou em varanda é que me recordei do começo da minha vida e entrei em depressão. Muitos clientes tinham depressão e achei a palavra perfeita para o que eu sentia. Depois do gato Gertrude, ninguém realmente se importou comigo. Ninguém tinha ciúme de mim, nem me disputava. Foi aí que lembrei que nunca um ser humano tinha mostrado carinho comigo. E a cada sessão que acabava, mais deprimida eu ficava, pois nem aquelas pessoas sentavam em mim mais do que três meses e já iam me trocando pelo divã. Um dia o filho mais novo do meu dono trouxe pra casa um filhote de poodle. O cachorro era endiabrado, e o meu dono vivia recomendando que não deixasse ele entrar no consultório. Nessa época meu dono estava trabalhando menos e ganhando mais, portanto a sala as vezes ficava aberta. Um dia o cachorrinho chegou de mansinho, encostou a pata pequena na minha perna e me balançou. Ele correu assustado mas depois repensou o susto. Ora afinal eu não tinha saído atrás dele para lhe dar palmadas, então resolveu me desafiar e cada dia que encontrava a porta aberta entrava e me balançava. Já estava ficando enjoada, pois nunca mais desde o Gertrude, tinha sido tão balançada. Mas o pior ainda estava por vir. O tal cachorro já com quase um ano e os hormônios a toda, sentiu que a cadelinha pequinês da vizinha estava no cio e deu uma urinada daquelas nas minhas pernas direitas. Molhou meu assento e a almofada que ficava em cima dele. É claro que o poodle levou uma bronca do dono, mas eu acabei parando no sótão do prédio. E lá se passaram 30 anos. O que mais me lembro dessa época era da quantidade de móveis quebrados que eram jogados perto de mim, mas pior era ser roída por ratazanas. O cheiro de mofo também era terrível. Minha depressão nunca tinha sido curada e acabei vivendo ali sem muita noção de quem era meu dono, o que aumentava ainda mais meu complexo de rejeição.
Um dia houve um pequeno incêndio no sótão e depois de apagarem as chamas com um lança espuma interessante, fomos todos retirados para a calçada do prédio. Eu estava de saco cheio da vida e se conseguisse andar teria me jogado na frente de um carro qualquer. Foi aí que um rapaz muito bonito e simpático olhou pra mim. Pensei cá com meus botões ou seria com minhas almofadas rasgadas? Lá vou eu pra casa desse mané que provavelmente tem cachorro e vou ficar novamente urinada e fedida. Agora pelo menos estava cheirando a cinzeiro com espuma. O tal bonitão me colocou na carroceria de um carro de cabine dupla que devia ser estrangeiro, porque tudo nele era escrito em outra língua, e me levou. Fui a princípio para uma espécie de oficina e depois de recuperada e cheirosa fui para um Lounge.
_Vocês sabem o que é um Lounge? Eu não sei também, mas todos falam dele. É um lugar bem legal. Toca musica aos berros, as pessoas falam aos berros, os casais muitas vezes sentam um no colo do outro enroscados no meu assento e fazem ruídos assustadores._
Estou feliz por aqui. Pela primeira vez na minha vida sou disputada por humanos. Mas uma coisa está me assustando. Ouvi falar que o bonitão vai trazer uma gata chamada Raimundo pra cá. _ Ei! vocês não vão perguntar porque uma gata tem nome de Raimundo?_

Pagode me gusta mucho! - Eugênia Kós

Foi um numero que seduziu Hoachim ...2469...
Numero comum, sem grandes significados...mas não para Hoachim.
Quando ele me encontrou naquela loja chiquézima em Madrid eu reluzia no salão da loja. Sou uma autentica “Barcelona” e, Uma excelente (pra não me desgastar em elogios) criação de Mies van der Rohe (1886-1969), que mais do que qualquer outra, imortalizou este arquiteto como grande ícone do Design do século XX. Além de atuar como professor e diretor da Bauhaus, primeira escola de Desenho Industrial, Mies também é criador de uma das frases mais famosas no design que se aplica até hoje em qualquer área, "Less is more" (Menos é mais).
As mãos bem tratadas de “Ho” alcançaram displicentemente a minha etiqueta e ele viu meu numero enquanto esticava o pescoço para admirar uma moderníssima luminária pendurada no teto que pretendia comprar para Hanz. Ele se apaixonou por mim e me comprou por um preço imperial!
Fiquei tão ansiosa e insegura como noiva de casamento arranjado, afinal não conhecia meus proprietários nem sabia onde ia morar, não conhecia Paris...mas cadeiras não tem opinião.
Fui cuidadosamente encaixotada e despachada para a casa de Hanz e Hoachim.
Em silencio, no centro da sala, encaixotada escutei a chave introduzida na porta. A porta se abriu.
- Cherie, já almoçou ? Nossa, que caixote enorme é esse? Noooosssa, veio daquela loja em Madrid! O que você comprou? Nem me disse nada! O que é, o que é ? Conta looogo!
-É pra você! Abra! Meu presente de aniversário!
- Jura?!!! Ah, querido, o que é?
E foi rasgando os papéis dourados que Ho usara para embrulhar o caixote ...
- Se não gostar pode trocar...
Fitas cortadas, martelo arrancando pregos, bolinhas de isopor por todo o apartamento, os yorks latiando excitados e os risos alegres de ambos. Quando eu finalmente surgi vi os olhinhos azuis de Hanz brilhando
- Uma cadeira Barcelona!!! Autentica!!!Obrigado, querido! Adorei! Sempre quis ter uma assim aqui em casa!
Ele acariciava as minhas almofadas, os yorks pularam sobre mim fazendo cócegas, todos ríamos felizes..
- Toda cromada, que acabamento! Estofamento de pele de cabra! Esse tom de havana é perfeito, combina tão bem com nossa sala! Adoramos!
Hanz abraçava Hoachim com entusiasmo, a sua felicidade era tão contagiante que me senti uma cadeira muito sortuda.
- Observe o numero de serie!- disse Hoachim
Hoachim mostrava uma das tábuas do caixote com o numero estampado, idêntico ao do certificado e da gravação na estrutura cromada.
- 2469! Incrível! Dois de abril de mil novecentos e sessenta e nove, nosso aniversário! Como foi que você encontrou essa jóia?
- Eu não resisti, tinha que comprá-la para nós. Entrei na loja por causa daquela luminária que você se apaixonou na nossa ultima passagem por Madrid, lembra? Mas quando vi a cadeira...
Hanz dava pulinhos de alegria e me arrastou até um lugar de destaque na sala, bem defronte à janela, sobre um belíssimo tapete. Ao longe eu podia admirar a Torre Eiffel. Sobre mim eles dispuseram uma bela almofada de brocado com o monograma do casal bordado em ouro: “H&H”. A coté um baú de sândalo chinês apoiando vaso de raras orquídeas tagarelas que repetiam as histórias vividas em um distante país tropical.
Todas as peças da sala eram estrangeiras. Eu só entendia a lingua das orquídeas, bem parecida com o meu castelhano, fora elas eu não tinha com quem conversar...o tapete falava persa, o baú era chinês, a mesa da sala de jantar era uma sueca gelada, a luminária era russa...Tudo muito lindo mas eu estava deprimida, nada acontecia além das reuniões onde todos circulavam entre betises tilintando cubos prateados de gelo. Ninguém se sentava em mim...eu não era um quadro, gostava de participar, sentia saudades dos tempos da minha infancia vivida na loja em Madrid...
Um dia Hanz e Hoachim brigaram, Hoachim foi embora e levou os yorks... Hanz chorou por meses e meses e meses...eu também, quase enferrujei!
Quando Hanz parou de chorar novas festinhas começaram, sons de bossa nova, um sambinha aqui, um chorinho ali e numa dessas pautas surgiu o Jodilson, um brasileiro. Acariciava o cavaquinho nos bares da Lapa quando foi convidado para se apresentar em Paris. Simpático, moreno de praia, sedutor e animado. O brasileiro foi ficando, cantando, tocando e fazendo Hanz sorrir novamente. Eu também. Logo a casa ficou animada, cheia de pessoas coloridas e balouçantes...a ópera foi substituída por samba e pagode, os copos de cristal por copos de caipirinha.
Jodilson tinha uma irmã, a querida Mariceia, porta-bandeira vitalícia da Magnífica Escola De Samba Abolidos do Irajá. Ela também viera a Paris com a Escola para sambar nos salões parisienses e esquentar o frio inverno da cidade-luz. Num dia de descanso Hanz ofereceu uma “feichoade” à cunhada e aos passistas da escola e, depois de muitos copos, cansada dos saltos astronômicos Maricéia se “ajogou” sobre minhas almofadas para descansar a morenice.
- Cruz credo Hanz, que cadeira mais gostosa!- aconchegou-se suspirando.
O alemão, querendo agradar o namorado Jodilson por tanta felicidade e por te-lo feito esquecer o antigo amor, me presenteou imediatamente para a Mariceia!
Entre pandeiros e cuícas fui novamente despachada de Paris direto para Abolição, Rio de Janeiro, Brasil! Maior calorão, muita cantoria, vozes por todos os lados...No início fiquei assustada mas logo me acostumei.
O marido da Mariceia, um negão muito simpático chamado Jorjão, não gostou do cromado da minha estrutura porque lembrava o pára-choque do seu fenêmê, conseqüentemente lembrava trabalho e esse não era o forte do negão...então ele convenceu Mariceia a deixá-lo me pintar.
Voltou da esquina com as mãos cheias de lixas e trinchas, varsol, estopa, uma latinha de zarcão e outra de tinta esmalte azul real. Estendeu folhas de jornal no chão do quintal e me atacou, arranhou todo o cromo com lixa 120, me besuntou de zarcão laranja, abriu uma cerveja para esperar o zarcão secar e na hora da tinta... borrou de azul as lindas almofadas de pele de cabra havana...
- Xiii, a gostosa vai me matar...
Esse era o apelido “caseiro” da Mariceia por causa da sua cintura fina, quadris largos e o glorioso derriere de passista de pedigree!
Logo ela veio flutuando sobre seus tamanquinhos de verniz que expunham pezinhos bem tratados com unhas pintadas de vermelho-paixão, eu escutava de longe os saltos de madeira marcando os passinhos no chão.
- Nêgo, afasta...Deixa eu ver como tá ficando... JORJÃO!!! você borrou as almofadas! E agora?
- Ah, Gostosa, num briga comigo não...olha só que azulão bonito! Já tenho a solução! Eu já tava até achando mermo que a gente devia fazer umas almofadas coloridas, essas aí não combinam com o nosso “cafôfo”, que vc acha?
- Taí, meu nêgo, gostei da sua ideia! Acho que a cadeira vai ficar muito mais bonita!
Mariceia chamou uma colega para dar opinião, mediram as almofadas e tomaram o rumo de Madureira. Voltaram com um chitão florido e convocaram a costureira da Escola que produziu minhas novas almofadas. Fiquei um espetáculo! Depois da reforma do Jorjão fui aceita pela comunidade e meu numero de serie virou piada lá no bairro. Agora todos sentam em mim durante as famosas feijoadas da Mariceia lá na Abolição.
Ah, e o pagode?
-Pagode me gusta muchissimo!
Hanz, que aparece todo carnaval com Jorjão, me encontrou azulona e achou lindo!
- Que crriatifo, Marriceia! Adorrei esse tecido florrrido! Tão carrrnavalesque! Marravilha!
Logo a batucada recomeça, as caipirinhas alegram a galera e gente, eu tô muito feliz!!!






Cadeira Barcelona
Márcia Almeida, JBblog

Uma excelente criação de Mies van der Rohe (1886-1969), que mais do que qualquer outra, imortalizou este arquiteto como grande ícone do Design do século XX. Além de atuar como professor e diretor da Bauhaus, primeira escola de Desenho Industrial, Mies também é criador de uma das frases mais famosas no design que se aplica até hoje em qualquer área, "Less is more" (Menos é mais).

A cadeira Barcelona foi desenhada especificamente para mobiliar o pavilhão alemão na Feira Mundial de 1929, em Barcelona. Mesmo já tendo várias outras criações, Mies insiste em algo novo devido as exigências que tinha em mente. A cadeira deveria condizer com a idéia de que um pavilhão nacional representava um lugar onde se celebram valores coletivos. Mies adota como referência a sella curulis, cadeira de Estado da antiga Roma, emblema de poder imperial. Já como obra de arte, expressa duplo caráter - graça e dignidade. Uma aula de design clássico, simplicidade e beleza.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

O DESPACHO - Ana Lidia Pimentel

Carlão, Zé, e Norminha, eram amigos de infância. Dividiram o mesmo bairro e a mesma rua por muitos anos. Eram amigos de verdade. Os três estavam sempre juntos. A casa na árvore, construída no quintal de Norminha, era o refúgio deles.
Era na casa da árvore que os meninos perguntavam “coisas de menina” para Norminha que, com ares de professora, discursava com doçura, sobre os assuntos que ela mesma não compreendia muito bem. Da mesma forma, ela perguntava “coisas de menino” para eles que, às gargalhadas respondiam, muito envergonhados, o que supunham ser as respostas certas.
Veio a adolescência e Zé começou a namorar Norminha.
Vieram os anos de faculdade. Norminha formou-se em psicologia, Zé formou-se em direito e Carlão, em economia. Carlão era um verdadeiro “Midas”. Tudo que ele aplicava em operações financeiras aumentava vertiginosamente. Tanto era assim, que Carlão começou a dar consultoria em investimentos, coisa que lhe rendia um bom dinheiro no fim do mês.
Norminha e Zé se casaram. Passados dois meses, Carlão apareceu com uma namorada nova. Chamava-se Marlene. Carlão estava completamente enfeitiçado por ela. Era uma dessas criaturas insuportáveis que só via qualidades, nela mesma e constantemente menosprezava Carlão. A única coisa que ela realmente gostava no Carlão era a generosidade com que ele a presenteava constantemente.
- Essa “piranha” está explorando o Carlão e o bobo nem percebe! – disse Norminha indignada.
- Calma - pediu Zé. - Nós precisamos é fazer alguma coisa para abrir os olhos do Carlão. Vou ter uma conversa com ele. -
Zé chamou Carlão pra conversar e disse tudo que Norminha e ele sentiam a respeito de Marlene. Mas, Carlão estava cego e surdo aos apelos da razão.
Carlão e Marlene se casaram. Marlene continuava menosprezando Carlão, só que agora também o ridicularizava, de preferência, em público, deixando-o constantemente constrangido. Norminha e Zé não achavam aquilo normal num casal com tão pouco tempo de vida em comum.
– “Há algo de podre no reino da Dinamarca!”. –Era o que Norminha costumava dizer.
Algum tempo se passou quando, num belo dia, Norminha viu Marlene entrar no carro de um homem que ela não conseguiu reconhecer. Norminha, que achava Marlene uma “biscateira” não titubeou. Seguiu-os. O carro deles entrou num motel. Norminha ligou imediatamente para o Zé, que partiu, sem pestanejar, para a porta do tal motel, com máquina fotográfica e tudo mais. Na saída do motel, Norminha e Zé testemunharam e fotografaram Marlene, ainda trocando beijos com o tal sujeito.
- Puta que o pariu! A filha da mãe está traindo Carlão! E agora? O que vamos fazer?
– exclamou Zé exaltado.
Norminha e Zé começaram a analisar a situação sob o ponto de vista psicológico e jurídico. Carlão ia se dar mal. Marlene era casada com ele com comunhão parcial de bens. Tudo que Carlão conseguiu juntar, com trabalho, depois do casamento, teria que ser dividido com Marlene. Carlão tinha sido traído e ainda ia ter que dar dinheiro pra vagabunda ir curtir com o amante.
- Quais são os bens do Carlão?- perguntou Norminha.
- O apartamento e o carro. - esclareceu Zé.
- E ele não pode vender?- indagou Norminha.
- Para negociar o carro ele não precisa da assinatura dela, mas o apartamento ele não pode vender sem que ela concorde e assine. - respondeu Zé.
-E se por um milagre, ele conseguisse que ela concordasse e assinasse a venda, o que ele pode fazer com o dinheiro que receber? – perguntou Norminha.
- Bem, em tese, ele pode fazer o que quiser com o produto da venda. - esclareceu Zé.
- Acho que tive uma idéia, mas tudo vai depender de como Carlão vai receber a notícia da traição e do que ele vai querer fazer com a Marlene. Vamos procurar o Carlão. - finalizou Norminha.
Norminha e Zé combinaram um encontro com Carlão, à noite, na casa deles.
Quando Carlão chegou à casa de Zé e Norminha, os amigos começaram a difícil missão de contar sobre a traição de Marlene. Com as fotos, que serviram como prova, não havia como duvidar. Carlão ficou perdeu o chão. Nunca se viu Carlão chorar tanto.
De repente, Carlão parou de chorar e disse - Vou dar o troco nessa vagabunda! Só não sei como. -
- Mas, eu sei! – disse Norminha. – Você vai ter que ter muita coragem e paciência, mas acho que vai dar certo.
Carlão enxugou as lágrimas e começou a prestar atenção a tudo que os dois amigos lhe diziam. Depois de umas duas horas de conversa Carlão disse resoluto: – Eu topo! Faço qualquer coisa para que Marlene não leve a melhor. –
Carlão foi para casa.
Marlene, que o esperava, indagou. – Isto são horas?-
- Desculpe-me, meu amor, tive que jantar com um cliente e... sabe como é... - disse Carlão mentindo.
- Tá. Eu vou dormir. - disse a megera.
Carlão ficou na sala refletindo um pouco. Repetia para ele mesmo que não podia deixar que ela desconfiasse de nada. Um pouco mais calmo, foi tentar dormir também.
No dia seguinte, bem cedo, Carlão começou a por em ação o plano.
_ Estive pensando... – começou Carlão.
- Pensando? Você? - debochou Marlene.
Carlão apertou uma mão contra a outra com força pra não perder o controle.
- Pois é. Estive pensando que poderíamos nos mudar deste bairro e ir para um bairro melhor. Que tal?- perguntou Carlão.
Marlene ficou radiante e foi logo dizendo: – Que maravilha! É tudo com o que sonhei!
- Bem, então, vou procurar um novo apartamento. OK? – Perguntou Carlão.
_ OK!OK!- respondeu a interesseira.
Dois dias se passaram e Carlão levou Marlene para visitar um apartamento que ele havia selecionado. Era um excelente apartamento em um bairro classe A.
Marlene ao ver o apartamento logo se encantou.
- É esse! É esse! - disse Marlene quase sem respirar.
- Parece ser bem caro. - disse Carlão.
- Por favor! Pelo nosso amor! Vamos comprar este! – implorou a vagabunda.
- Está bem. Vou ver o que se pode fazer. – disse Carlão.
No dia seguinte, Carlão chegou em casa cabisbaixo e Marlene perguntou o que estava havendo.
-É que o apartamento que você gostou é mais caro do que pensei. Não vamos poder comprá-lo. - lamentou Carlão.
_ Ah! Não... Não vou me conformar. Você vai ter que dar um jeito. – disse ela emburrada.
-Bem, na verdade, existe uma solução, mas não acho que seja a mais indicada.
Teríamos que vender este apartamento onde moramos para dar de entrada no outro.
O restante terá que ser pago em prestações. – esclareceu Carlão.
- Então é isso que vamos fazer! Não tem mais discussão. Vamos vender este apartamento pra poder comprar o outro. - decidiu Marlene.
- Está bem. Se você quer assim meu amor... Depois não diga que não te orientei bem. – advertiu Carlão.
- Eu não preciso de você para me orientar. Vamos fechar negócio. – concluiu Marlene.
Uma semana depois, Marlene e Carlão foram ao cartório assinar a escritura de venda do apartamento. Carlão recebeu a quantia em dólares, dizendo ser exigência do novo proprietário do apartamento. Marlene voltou para casa, enquanto Carlão, que disse que iria dar o sinal do apartamento novo, pegar recibo e tratar dos papéis de compra, na realidade, foi ao escritório de Zé que já o estava esperando.
No dia seguinte, Carlão, como sempre fazia, saiu para trabalhar. Marlene, como já era de se esperar, foi encontrar-se com o amante. Carlão, que desta vez, não havia se afastado da esquina, viu Marlene pegar um táxi.
Ele voltou ao apartamento. Em seguida chegaram Norminha e Zé. Os três conversaram bastante e acertaram os detalhes finais do plano. Norminha e Zé saíram para por mãos à obra. Carlão escreveu um bilhete, pegou uma pequena valise com uma muda de roupa e saiu batendo a porta do apartamento. Passou pela portaria, cumprimentou o porteiro e ganhou a rua. Nunca mais ninguém o viu por aquelas bandas.
No fim da tarde, Marlene voltou ao apartamento. Surpresa, ela encontrou o apartamento completamente vazio e apenas um bilhete dizendo: “Antes tarde do que nunca. Adeus”. Ainda atordoada, não conseguia entender o que havia acontecido.
Correu ao novo apartamento e ao chegar lá, viu uma mudança entrando. Mas, não era a sua mudança. Agora, estava tudo muito claro. Ela havia sido enganada por Carlão.
Voltou ao antigo apartamento completamente vazio e de lá, ligou para o Zé.
- Alô, Zé? Já entendi tudo. Mas, eu tenho meus direitos! – esbravejou ela.
- Direitos sobre o quê? – perguntou Zé.
- Sobre tudo o que é do Carlão. Meio a meio. – disse ela.
- E o que é que é do Carlão?- indagou Zé.
- O carro, o apartamento... Tudo! – berrou Marlene muito irritada.
- Que carro? Que apartamento? – ironizou Zé.
- Filho da mãe! Aquele idiota me passou para trás e vocês o ajudaram! Eu... – Marlene ouve um clique. - Alô! Alô!... Desligou!
Do outro lado, Zé e Norminha comemoravam o sucesso do plano.
No dia seguinte Zé entrou com o pedido de divórcio de Carlão. Sem bens a dividir, sem filhos e com as provas de adultério, o processo correu sem problemas e quando ficou concluído, Zé e Norminha foram dar a notícia a Carlão. Morando numa casa alugada na praia, Carlão nem parecia aquele de antigamente. Estava bem, mas ansioso para retomar sua vida e seu trabalho, sem temores.
-E aí trouxeram o despacho?- perguntou Carlão rindo
-Claro que trouxemos o despacho! O do juiz. – responderam, rindo também.
- E que DESPACHO!- disseram os três em coro e rindo.
E Carlão aliviado finalizou: – Este é o despacho que despachou a megera! -

terça-feira, 13 de novembro de 2007

QUEM SE LEMBRA DO FARINHA? - Guga Casari

As areias do tempo engolem cruéis a pegada de homens comuns. Por que com Otávio seria diferente. As palavras que evitavam sair de sua boca por causa da gagueira eram pronunciadas com alento apenas suficiente para romper a distancia entre ele e o próximo. Andava de lado em ritmo próprio, sempre tropeçando em degraus impostos por sua perna mais curta. E como tinha a pele muito clara, era quase albino e não pôde ir trabalhar na roça. Por isso o pai lhe ensinou alguns rudimentos do oficio de carpinteiro vendo nisso uma solução para o menino conseguir oficio. Nas fabricas onde trabalhou não tinha antipatias, nem grandes amizades, e como tinha começado a trabalhar muito jovem aposentou-se cedo. O único reconhecimento duradouro que recebeu de seus pares foi o apelido de Farinha, por que, coberto de pó de serra, o branco Otávio era uma imagem notável.

Noivou apenas uma vez, o nome da moça era Leopoldina. Para Ele, Leopoldina foi um anjo que o aceitou, mas ela morreu bem antes que pudessem falar de casamento. Tímido, ele nunca mais conseguiu se aproximar de outra, conformando-se com a solidão.

São Francisco era o santo de sua devoção discreta, para o qual sempre orava. Fora o trabalho era seu companheiro de todo momento. Isso sem contar com os que eram seus únicos amigos, André e o Zé Formiga. O rústico e simples André era canteiro, um tipo que já não se encontra mais, Ele dava forma a pedra com ponteiros de ferro. Zé formiga era um negro alto e bem magro sempre muito calado, uma chaminé constantemente fumando. Apontava o jogo do bicho ali na região. Diziam que era “pé frio”, pois ninguém que apostou com ele nunca ganhou muito dinheiro.

Otávio morava num quartinho do sobrado azul na Rua Sete de Abril. Comia sempre na pensão da Dirce, já que a comida lá não era ruim, e na média dessas coisas até que o lugar era limpo, se você relevasse o verniz de frituras sem fim na parede.

Depois de se aposentar Otávio continuou a fazer biscates. A aposentadoria, claro, era pouca e um troco a mais era bem vindo, mas o motivo real era que o trabalho era tudo o que conhecia. Quando trabalhava se sentia bem e em paz. Trabalhava quieto, não gostava nem de rádio ligado. As vezes parecia antipático porque se alguém chegasse de repente pra falar algo ele custava a deixar o que estava fazendo. Isso lhe trazia poucos clientes, mas também lhe afastou de muitos azares. Sem o convívio diário com colegas de fábrica, Otávio se voltou ainda mais para dentro, se tornou alheio do mundo e das pessoas em geral.

Faleceu quando estava florida a cerejeira japonesa ao lado de sua pequena oficina. André que achou estranho Otavio não aparecer pro jogo de damas, o encontrou naquele domingo, justo para o descanso. Seria enterrado como indigente não fosse pelas economias deixadas numa latinha de leite em pó, exatamente bastantes para o seu funeral. Os dois amigos cuidaram do enterro simples no caixão de pinho. Não ficaram pendências, suas encomendas estavam todas entregues.

Fora Zé Formiga, a Odélia cozinheira da pensão, André e Marcelo que era seu aprendiz ninguém foi velar Otávio. Os quatro que foram notaram que o falecido tinha a face tranqüila.

No quarto do sobrado não ficou nada que indicasse quem havia morado lá, quase no mesmo dia do enterro a TV sumiu e o dono do quarto mandou jogar fora a geladeira velha, com o fogareiro enferrujado, mais todo o resto que havia. As ferramentas ficaram com Marcelo. O dono da garagem onde era a oficina ficou com a serra elétrica pelo pagamento de alugueis.

Otávio não deixou nada pra traz. Não se sabia se tinha família, primos, irmãos. Dos que poderiam se lembrar dele André se foi primeiro, falecendo logo depois do amigo. Zé Formiga foi apontar o bicho noutra região, onde não sabiam do seu pé frio. E quem fosse à pensão da Dirce meses depois já não a encontraria mais lá, Odélia que segurava o tranco da birosca pediu as contas sem explicação, e mudou de cidade.

Sem deixar pista, Otavio e sua vida poderiam bem ter evaporado, ou nem existido.

Só que não foi assim que aconteceu.

Os monges do mosteiro que não conheceram Otávio, o têm no coração com carinho. Vêem no altar nascido da prancha grossa de madeira, antes usada pra subir um pesado trator de esteira num caminhão, a dedicação absoluta do artesão. Este altar foi uma de suas últimas obras, e conta um milhão de histórias, parecendo amparar as dores, sofrimento e o próprio peso do mundo, dum modo tão leve, gracioso e discreto que assombra.

A velha senhora não sabe quem produziu o pequeno castiçal pelo qual tem grande apreço. Achou-o numa loja. Especial na aparência por um pequeno nó na madeira, e pela forma que suas fibras se trançam no seu torneado. Para ela é um companheiro corajoso de orações nas suas noites insones, que a diverte pelo absurdo. Um castiçal de madeira que pode se inflamar, consumido pela luz que serve.

O Professor não sabe quem fez a caixinha lisa e encaixada que sempre se quer tocar. Foi um presente de aniversário da esposa. Eles a usam para guardar e proteger bons sentimentos, escritos em papelotes coloridos.

Odélia, a cozinheira da pensão, cozinhou para Otávio tantas vezes sem nunca trocarem uma palavra, até aquela ultima sexta feira. Naquele dia Odélia tinha errado no sal da couve e no tempero do feijão, coisa que nunca acontecia, e Otávio a viu chorando, cansada e sem esperança. Descobriu que o filho tinha roubado suas economias, guardadas para tratar da vista da sobrinha. Num gesto Otávio lhe fez uma banqueta e a presenteou.

– Pro seu descanso Dona Odélia.

Foi só o que disse, talvez suas últimas palavras, que lhe saíram claras e sem titubeios.

Odélia sentou-se e descansou as pernas cheias de varizes, grata lhe deu um beijo no rosto e fritou pasteis inesquecíveis. Nessa banqueta Odélia descansou muito, e se refez. Lembrou do amor ao filho, planejando a aproximação. Naquele templo minúsculo Odélia abraçou o rapaz, choraram juntos, e Ele jurou se emendar. Emendando-se achou um bom caminho, nesse bom caminho casou e teve um filho que amava. Um simples gesto compassivo de amor, gravado na eternidade do Coração.

Por Guga Casari

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

NAVEGAR...E´ PRECISO? - Eugênia Kós

Eu nao sabia o que mais amedrontava meu pai, se o barco velho ou o genro novo.
- Minha filha, você tem certeza de que é seguro?
O barco velho chamava-se Lépido. Era um veleirinho de madeira, 27 pés, feio e apertado mas era o orgulho do genro do meu pai, e meu também.
Era muito estável e veloz, ostentando as velas brancas no topo do mastro ele deslizava oblique ao mar com a elegancia de quem tem pedigree. For a d’água e sem pudor nenhum ele exibia todos os seus motivos: uma quilha de 1,80 m arrematada por um pesado torpedo de chumbo surpreendentemente voltada para a proa o que dava a impressão de alguém tê-la posicionado ao contrário.
Marcos era o capitão daquela “máquina” `a vela que nos levaria às paradisíacas praias da Ilha Grande no feriadão. Eu confiava no veleiro e na competência do capitão apoiada na minha completa inexperiência… Aquela seria a minha estréia em mar aberto.
Ainda estava escuro quando despertamos.
Eu, saltitante em havaianas brancas fiz uma revisão mental da bagagem enquanto escovava trinta e dois dentes. Nina vinha sonolenta arrastando os chinelinhos. Carimbei um beijo estalado em sua bochecha para incentiva-la na eardua caminhada até o sabonete.
- Bom dia, princesa, dormiu bem?
Ela grunhiu um adolescente “Hãnhãn…”
- Não esquece de levar um livro…vamos passar dias sem televisão…
- Ihh, mãe!..tá legal...saco!
Na sala do apartamento já aguardavam dois volumosos sacos de velas, bagagem, guloseimas, ferramentas…e uma garrafa de uísque. Torci meu inútil nariz de tripulante para a garrafa do capitão mas o capitão foi inflexível: pelas leis de Netuno o uísque é permitido a bordo como combustível energético. e quem manda é o capitão. Å garrafa seria embarcada e a tripulação que se confomasse…
Como eu estava feliz com a chance de reunir minha familhinha decidi que nada me aborreceria. Estava apaixonada, o barco era lindo e eu pretendia pescar nada menos que uma gorda anchova.
Chegando ao clube pulei para o convés do barco a fim de cumprir minhas tarefas de cabine. No pier Marcos conversava com um amigo e escutei algo sobre nuvens e frentes frias…Interpelei imediatamente o capitão:
- Marcos, por um acaso eu ouvi o caro colega mencionar uma frente fria chegando ao Rio?
Impaciente mas com a intenção de me tranquilizar , ele esclareceu em voz alta:
- Eu vi! Não se preocupe. A nuvenzinha do mapa é tão desprezível que não vai atrapalhar nosso fim de semana.
Confiante continuei nas minhas tarefas organizando meu veleirinho pequeno e frágil e, por um Segundo, me senti apreensiva. Mas passou logo.
Empurrei os sacos de vela para o lado a fim de conseguir um espaço confortável para Nina se aconchegar no balanço das ondas.
- Todos a bordo – conclama o capitão – o barco vai partir!
Marcos ligou o motor ingles que “nunca enguiçava” e partimos levando nossos planos felizes.
No barulho do motor 2 tempos o dia amanheceu menos glorioso do que eu gostaria. Admirei a imponência do Pão de Açúcar e depois estiquei o olhar até o horizonte. Lá for a os “carneirinhos” mostravam que o vento estava forte. Nada bom…
- Preparem-se, vamos chacoalhar muito – falei para meus apreensivos botõezinhos
Retomei as atividades e Nina resmungou porque a acordei durante as minhas manobras com as velas.
- Ops, filha. Tô te atrapalhando, né? Desculpe, é rapidinho…
O vento soprava de frente levantando a proa e afrontando nosso corajoso Lépido que corcoveava avançando, com a ajuda do motor, de encontro ao sudoeste.
De repente nosso Seagull, aquele tal motor que nunca enguiçava, engoliu um saco plástico, engasgou, tossiu e…morreu!
No refexo do olhar do capitão entendi que a manobra teria que ser rápida, alcancei o cabo da vela que descansava na proa, enrolei-o na catraca e fui rodando a manivela até que a vela alcançasse o topo do mastro, o capitão acertou a regulagem dos panos com precisão e o vento assumiu seu posto. Lépido respondeu adernando como um veleiro de raça, sensível e obediente aos comandos.
Nina apareceu da porta da cabine, observou o horizonte e diante da imensa nuvem escura que viu sugeriu que voltássemos para casa.
Eu achei que a sugestão era bastante sensata mas o capitão respondeu com fé:
- Calma aí! De jeito nenhum! Você vai ver a praia que nós vamos curtir amanhã
Observei Nina voltar para o seu aconchego num resmungo desdenhoso
– Até parece…praia amanhã…?
A âncora, os cabos, os coletes salva-vidas estavam sob uma montanha de bagagens… Mas claro que não seriam necessários. Afastei os maus pensamentos,
Mas por causa de outros maus pensamentos lembrei que não havia nenhum lugar abrigado entre o Rio de Janeiro e a Ilha Grande…
O vento aumentava, a chuva engrossava, nada ficava no lugar. Só Nina…quietinha e encolhida na proa. O veleiro encontrava muita dificuldade para prosseguir porque estávamos com uma vela inadequada.
- Marcos, cadê a storm-jib!?
Percebi que ele engoliu em seco.
- Eu não trouxe, achei que não íamos precisar…
E agora? E agora???! Nossa storm-jib, a vela de tempestade, a única vela adequada não estava no barco! Minha confiança no capitão foi por água abaixo, fiquei furiosa com a irresponsabilidade. Temi por nós, principalmente por minha filha. Por outro lado não seria sensato discutirmos naquele momento portanto só me restava colaborar. A inconsequência teria que ser compensada pelo talento e Marcos precisaria de ajuda.
E tudo piorava, o radio ficou sem bateria, o dia escureceu, o vento apertou, a chuva engrossou e o medo ia me intoxicando. O barco chacoalhava, tremia, subia e descia, corcoveava, brigava com as ondas, não queria desistir mas também não avançava dinte do voluntarioso sudoeste.
Ilha Grande estava à vista, tão perto…
- Vamos voltar!! – subitamente veio a decisão do capitão .
- O que??? Mas Ilha Grande está alí!
- Não vamos conseguir, Olívia! São cinco da tarde, já está escurecendo.
Estávamos velejando há dez horas!
Sem hesitar, numa manobra rápida Marcos girou o barco e Lépido atingiu uma velocidade que eu nunca vira antes. O mastro vibrava assustadoramente enquanto eu recolhia vela de proa. Rezei todas as orações conhecidas porque perder o mastro alí seria muito pior do que aterrorizante.
A água invadia a cabine e eu enchia, para depois esvaziar, baldes e mais baldes de mar para aliviar o peso do barco.
A paisagem desapareceu no lusco-fusco da tarde mal-humorada. Nosso caminho logo ficaria na mais completa escuridão e barco não tem farol!
Marcos se sentia heróico, cheio de adrenalina enfrentava a natureza como um Ulisses demente!
Eu estava em pânico, um sono insuportável me invadiu e manter os olhos abertos com as pálpebras tão pesadas se tornara muito difícil, a reação física me assustava porque era desconhecida e eu não sabia como supera-la! Meu coração batia na boca…
E se aquele irresponsável caísse na água? E se o barco afundasse? E se…? E se…? Eu não saberia o que fazer . Precisava muito dele e me esforçava muito para abrir os olhos depois das longas piscadas, só para comprovar se ele ainda estava no leme.
Por devoção a Netuno recorri à garrafa de uísque. Depois de duas ou tres doses uma vaca já mugia dentro de mim. Não… talvez fosse um touro, um miúra negro, preso e furioso, escavando o chão com os cascos, exigindo uma morte sangrenta! Estava dividida entre essa enorme vontade de assassinar o capitão e outra de chorar no ombro dele…
Graças à Iemanjá, a Deus e a todos os santos o capitão continuava dominando a situação. Eu o observava atentamente e, se vislumbrasse o menor sinal de apreensão nele, desabaria. Parecia um filme de terror ao vivo! O oceano estava dentro do barco e o barulho era apavorante.
As únicas luzes na noite eram as dos prédios, postes e faróis dos carros circulando nas ruas da Barra. No elevado do Joá os carros passavam inocentes. As enormes ondas se esticavam tentando alcança-los, rugiam furiosas mostrando os dentes, espumavam de raiva, investindo contra a encosta de pedra.
Passamos no escuro, silenciosos, invisíveis. Nem as ondas, nem meu pai sabiam onde estávamos. Ninguém sabia. Só Netuno.
Sozinha, sentada no fundo do barco eu observava a cena surrealista da água correndo de proa à pôpa como num rio dentro da cabine. Minhas pernas obstruíam o curso d’água provocando ondas que, ao encontrar o dique humano, quebravam me encharcando até a alma. Nada continuava seco ou imóvel. Só Nina, sobre o beliche da proa.
Marcos recebia suas doses de uísque sorrindo torto para me tranquilizar e eu continha minha fúria assassina enchendo baldinhos com água do mar.
Rezei até para Sao Conrado que surgiu diante dos meus olhos, depois Niemeyer, e olha alí o Vidigal…LeblonIpanemaArpoadorCopacabanaLemePraiavermelha…olha! O Pão de Açucar! Olha o Pão de Açúcar!!!!
- Nina, Nina, o Pão de Açúcar!!! Estamos chegando!
Nina veio e me apertou num abraço e eu percebi o quanto ela estivera também assustada. Ignoramos o capitão e comemoramos en petit comité.
A majestosa pedreira não se abalava com as enlouquecidas ondas que a mordiam. Enquanto passávamos ela nos observava enigmática, como fazem as esfinges idôneas, ao mesmo tempo que se divertia com a nossa fragilidade.
Lépido parecia uma caixinha de fósforos flutuando frenéticamente sobre o caos das ondas embaralhadas e ventos desnorteados na entrada da baía.
Finalmente, às dez da noite, entramos nas águas abrigadas. A aventura durara quinze longas horas! Estávamos exaustos, molhados, famintos e sem velas adequadas. E sem motor…Era óbvio que o barquinho, que brigara tanto para chegar, não conseguiria alcançar o distante objetivo no clube em Niterói. E também não era uma opção jogar a âncora em qualquer lugar porque havia o risco de atropelamento por navio cego… Por estarmos indecisos deixamos o barco correr…
O veleirinho, cansado e corajoso, aproveitou a inércia e nos levou até bem perto de um enorme e escuro iate que parecia adormecido, incógnito e silencioso no seu canto. Que iate seria aquele?
Alcancei a única lanterna que ainda funcionava e procurei seu nome no casco…o facho de luz revelou que era o Lady Laura!
Aquele seria um colinho e tanto! Será que o Roberto aprovaria?
Como atrevidos vira-latas que encontram uma portaria segura para dormir resolvemos nos aconchegar alí mesmo. A sensação de alívio provocou gargalhadas e fomos dormir molhados e famintos porque nada mais parecia importar, afinal estávamos no colo da mãe do Roberto, o colo mais famoso do Brasil!

O LIVRO – Heloisa Ausier

Hoje me pergunto por que só naquele dia percebi a beleza de Marina. Apesar de cumprimentá-la todos os dias ao passar por seu sebo de livros, o “Don Quixote”, não imaginava que um dia ao entrar ali, minha vida seria definitivamente mudada.
Como sempre costumava fazer ao voltar da faculdade, entrei no sebo para procurar algo diferente para ler. Tinha lido há uns dias, as primeiras páginas de “O Pêndulo de Foucault” na internet, e excelentes críticas ao seu autor, Umberto Eco. Olhei em todas as prateleiras e não o achei, mas dei de cara com um outro livro dele que me interessou. Comecei a folheá-lo e na primeira página percebi uma dedicatória que me chamou a atenção. “Foi então que vi o Pêndulo... Lembra? Paris, 1991! Que continuemos juntas a desvendar cada segredo do amor e dos livros. E que Paris esteja sempre em nossas vidas!” Assinado “Anita”.
“Foi então que vi o Pêndulo.”, era a primeira frase do livro que eu estava procurando. Obviamente quem escreveu a dedicatória, datada de quinze anos antes, o tinha lido. Totalmente decidido a comprá-lo, tirei minhas economias do bolso da calça. Marina que estava tomando distraidamente uma caneca de café fumegante tomou um susto ao se deparar com aquela capa. Procurou imediatamente a primeira página e ao achar o que procurava, disse-me que aquele livro não estava à venda. Desculpou-se me explicando que ele estava na prateleira por engano. Senti que Marina estava extremamente constrangida com a situação, mas irredutível, quase histérica com a possibilidade de perdê-lo.
— É seu esse livro? — perguntei.
— Sim, não sei como ele foi parar na estante. — Respondeu ela.
— Essa dedicatória foi escrita para você? — Insisti.
— Foi. — Respondeu Marina mexendo sem jeito em seus cabelos encaracolados.
O telefone tocou, e ela atendeu. Fui até a outra sala procurar outro livro e voltei a tempo de ouvir o final do telefonema.
— Sozinha. O sebo está indo bem e saio com os amigos. Para mim, basta por enquanto. Não sei se quero me envolver com alguém tão cedo. — falou Marina.
Não ouvi o que a outra pessoa retrucou, mas Marina continuou.
— Agora é que você resolveu se preocupar comigo? Quando foi embora por causa daquela mulher não pensou nisso. Eu estou bem. Estou até pensando em sair... — Marina parou ao me ver chegar.
Fiquei sem graça e fingi estar olhando outra estante e ela continuou.
— ... com uma pessoa que está sempre aqui no sebo. Você sabe que tenho um fraco pelos leitores compulsivos — disse Marina rindo.
A outra retrucou alguma coisa, e Marina respondeu baixo colocando a mão no bocal do telefone.
— Não me venha com essa história de “você é que sabe”! Claro que só eu é que sei. To legal, Anita! De verdade! E se o carinha continuar a aparecer sempre no sebo com cara de garoto abandonado, eu vou fundo mesmo.
Logo após a outra falar alguma coisa, Marina se despediu sem perceber que eu tinha ouvido o resto da conversa. “Será que eu era a pessoa com quem ela pretendia sair?” conjecturei.
Desembolsei uma merreca para comprar um livro de bolso, me despedi dela e me mandei pensando que provavelmente aquela ao telefone era a Anita.
Minha necessidade em conhecer a história daquelas mulheres se tornou iminente. Estava profundamente confuso e atraído por tudo aquilo. Marina era a ligação com Anita e mais ainda, era o próprio alvo de sua dedicatória. Procurei-a no dia seguinte no sebo. Queria saber sobre a dedicatória.
— Por que você acha que eu tenho que te contar a história da dedicatória? — perguntou Marina?
— Porque eu fui compreensivo quando você não quis me vender o livro, então mereço ter minha curiosidade saciada. — disse eu sem muita convicção, mas jogando todo o meu charme.
— Vou te contar, não porque ache que você merece e sim porque não agüento mais ficar fingindo que a minha vida antes de eu vir para essa cidade não existia. — disse ela. — e também porque você é um cara muito gracinha.
— Estou ouvindo — disse, olhando dentro de seus olhos.
— Ta legal! Há vinte e três anos quando fazia universidade me apaixonei pela professora de francês. A paixão foi recíproca e logo estávamos morando juntas, num apartamento pequeno e cheio de livros. — Marina tirou da testa um cacho dos cabelos e continuou. — Moramos durante um ano em Paris, em 1991, quando Anita fez um curso de pós-graduação. Foi lá que adquirimos o hábito de ler alguns livros ao mesmo tempo e discuti-los. Para isso muitas vezes compramos dois exemplares do mesmo título. “O Pêndulo de Foucault” foi o primeiro livro que lemos juntas em Paris.
— Por isso então a dedicatória com a primeira frase? — perguntei.
— Sim, esse livro nos marcou profundamente. — respondeu Marina.
Estava na hora dela fechar a livraria, combinamos sair mais tarde.
O céu estava estrelado e a lua estava quase cheia. Andamos até achar um barzinho num porão com pouca luz e nenhuma badalação. Eu estava ansioso por conhecer melhor aquela mulher e sua vida, e ela parecia aliviada em poder contar seu drama a alguém realmente interessado em ouvir. A história de amor entre Marina e Anita não começou nem acabou de maneira diferente da história da maioria dos casais. Houve cumplicidade, companheirismo e traição!
Depois de uma pizza e algumas taças de vinho, fomos para casa conversando. Quanto mais ela falava de sua amada, mais instigado eu ficava. Já não sabia qual das duas mulheres me atraía mais. O fato é que eu estava totalmente embriagado por toda aquela história de amor. Já conseguia imaginar a mulher que eu não conhecia. Sentia seu perfume, ouvia sua voz, entendia seus pensamentos. Paramos na frente da casa de Marina, e num impulso dei-lhe um beijo. Nossas bocas se acharam com a facilidade de velhos amantes, e as línguas dançaram num ritmo frenético e apaixonado. Em poucos minutos estávamos na cama, e eu estava descobrindo uma mulher meiga e sensual. Depois de esgotarmos nossa sede de sexo, deitamos de costas e ficamos assim um tempo. Olhei para a estante e lá estava um porta retrato com uma foto. “Provavelmente era Anita” pensei. O outro lado do triângulo. Lembrei de uma música que dizia: “Why can't we go on as three?”.
Não imaginava como seria minha vida dali em diante, mas estava resolvido a aproveitar cada momento. Enquanto Marina fazia café na cozinha, por força do hábito, dei uma olhada nos livros. Reconheci a lombada de um, me levantei e o puxei. Não consegui abrir nem ler a primeira frase. Marina estava me segurando por trás. Senti sua boca nas minhas costas e suas mãos escorregando pela minha cintura. Meu corpo tremeu de desejo. Deixei o livro de lado.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Niver da Mestra!

Pois é... este "niver" foi o máximo! Com direito a torta de chocolate crocante e discurso da "nossa" inspiradíssima Wilma. Aí estão as fotos do evento devidamente documentado pela fotógrafa de plantão Geka!



Nossa mestra iluminada (como diz a Geka)
Parabéns Virginia!

domingo, 7 de outubro de 2007

História da Criação (literária)

No princípio era o caos.
Ensaios, crônicas, contos, novelas,enredos vagavam pelo Mundo das Ideias sem nenhuma lei.
Então surgiu a super heroi Virginia para botar um Começo Meio e Fim naquela desordem.
Trouxe com ela poderosas armas estrangeiras começando logo a atirar storylines, outlines, faux finales, escaletas, sinopses e pré sinopses encima dos bagunceiros.
A harmonia se instalou e Ideiasinhas começaram a brotar por todos os lados.
Parabéns Virginia pelo seu aniversário e pela vitória.
Nosso lema daqui pra frente será: Crer, porque aquele que nucreperecerá na confusão novamente. Wilma

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Novamente a Bilharda...

Encontrei, depois de postar um enorme comentário, essa pagina na internet sobre bilharda :
http://paisicaico.blogspot.com/2006/11/bilharda-voltando-ao-vocabulrio.html
Vale a pena dar uma olhada, tem até foto dos rapazer jogando, é bem engraçado.
Eugenia
Oi gente
Esqueci de contar ontem o que quer dizer bilharda,lembram do conto do Calvino?
Bilharda vem do frances Billard: Jogo infantil em que se emprega um pequeno pau,que se faz pular para dentro de um circulo traçado no chão,por meio de outro pau mais comprido.???!!!
agora bilhardar é no jogo de bilhar ,dar duas vezes na bola com o taco,ou jogar duas bolas simultaneamente.(Dic. do Aurélio)
bjs
Solange

Do You Tube?

Genten,
Queria compartilhar com vcs um video que tenho no You Tube

http://www.youtube.com/watch?v=0t4aQdtLaaY

Tenho outros lá mas esse é o que eu gosto mais, pois eu (e mais os fantasmas no sotão) o "produzi" inteiro. Este é um tipo de linguagem que acho bacana e moderna. Tipo cinema para o homem comum, é tambem uma das possibilidades para quem quer contar histórias. Bons roteiros, imagens significativas, música... E ai vc Yutuba a coisa pra todo mundo ver.

Ab

Guga

sábado, 29 de setembro de 2007

A Lanterninha

Pois é.
Esou eu aqui bucólicamente comendo minhas goiabinhas enquanto vcs passam em possantes masseratis espantando meu cavalinho. Ô gente! Se não correr perco o trem ...
Qto ao computador, ele é q tem problema comigo, que posso fazer?
Mas isso agora é irrelevante porque a mestra nos mandou escrever as 30 paginas à mao.
Até o momento consegui encher quasi duas descrevendo tooooodo o visual da Tia Violeta, tooooodo o mobiliário da sala, mais quadros, bibelôs, lanelas e cortinas. E quando dou por mim já estou fora da sala acompanhando Tia Violeta na sua caminhada para... (hahaha achavam q ia abrir o jogo, revelando o final? Querias...}
Minha dificuldade é permanecer na sala. Me ajudem, me amarrem, tranquem a porta, pliz uatxudaido?
Wilma, a Lanterninha

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Ideias! Ideias?

Ideias!... ideias?
Pois e', entao... Eu sofro (e quem nao sofre?) procurando ide'ias em lugares importantes da minha cabeca. Vou la' no fundo, bem no escuro, no escuro do fundo do meu cerebro ... e quando as encontro recusam-se a colaborar, nao se tranformam em frases, quanto mais em texto! Escorregadias, assustadas e brincalhonas fogem correndo e se escondem em labirintos.
Atra's de arbustos se tornam folhas, e acabam por desaparecer voando com asas de borboleta...
E aquelas que consigo cativar, as que parecem ter substancia nao dao caldo... ficam ralas que nem xixi de freira!
Ando fazendo o exercicio de ser menos elitista com as ide'ias: pretendo cativar muitas, anotarei todas, cadastrarei de forma organizada e as usarei conforme a necessidade. (desculpem a falta de acentos ortograficos...encontrei alguns, mas o cedilha e o agudo definitivamente nao estao nesse teclado. Mas acho que esta' comprensivel)
Sera' que vai dar certo?
Eugenia

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Nossa o povo esta escrevendo mesmo!!!
Vou tentar através do Blog começar a pensar teclando.Só consigo escrever no papel, cadernos e cadernos, mesmo no tempo da velha máquina de escrever.Trabalho duplo;penso no caderno e copio no teclado.É como manobrar com cinto de segurança,aprendi a dirigir sem cinto e pago o preço.Ao teclar toda minha naturalidade vai embora, fico fria e distante do que escrevo.O lápis ou a caneta são uma continuação da minha mão acho que os pensamentos fluem, já as teclas , que saco!!! Como sempre digo aos meus alunos de cerâmica: ao trabalhar com a argila voce tem um embate direto com o material, vc pode até usar ferramentas ,mas bastam suas mãos.Acho que com o teclado e minha pessoa se dá o mesmo.Olha que aprendi a bater a máquina com teclas mudas, não preciso olhar para as letras e o cérebro recebe uma mensagem automática quando o dedo erra o lugar.Isso é técnica!!!! que para pensar ou escrever para Solange de nada adianta.Vou continuar tentando
Bjs
Solange

Escrever é assim...

Pois, é... Muita gente pensa, que pra escrever basta ter uma boa idéia.
Ah...! Quem me dera fosse.
Pra escrever, e eu falo de escrever bem, é preciso muita dedicação.
Como diria um professor meu , na faculdade, pra escrever bem é preciso ter 10% de inspiração e 90% de transpiração. É mole?!
Primeiro você escreve, escreve, escreve e escreve mais um pouquinho. Depois, sai cortando tudo que você escreveu e que acha que será desnecessário. Bolas ! É coisa de maluco !
Mas, a verdade é que estou apaixonada por essa loucura toda. Isso se transformou na minha "cachaça". Espero que, em breve, se transforme no meu "vinho" ! Saúde !!!!!
Abrindo o tópico 2

Pois então, aproveitando a minha própria carona, estou abrindo aqui um segundo tópico que, acho, vai rolar enquanto este blogo existir: poderia se chamar "DAS DIFICULDADES COM A ESCRITA" ou coisa assim.

Para mim, a maior dificuldade com a escrita é justamente o escrever. O ato físico de escrever. penso mais rápido do que digito, e mesmo do que quando escrevo à mão. Como fui canhota e me obrigaram a trocar de mão, sempre troco a ordem da mensagem que vem do cérebro se nao me concentrar muito, o que significa que se soltar o fluxo, acabo trocando letras e errando horrores na digitação. Claro, tenho a maior preguiça de voltar e ficar corrigindo. Acho prático escrever no computador - que para mim é uma maquina de escrever que apaga , o que é uma maravilha para quem viveu o trauma das maquinas antigas e seus apagadores tormentosos . Mas acho que prefiro escrever à mao, e tenho quilos de cadrnos, canetas tinteiro e nao tinteiro, etc. . mas a mistura das cduas coisas me leva hoje a por vezes até na escrita à mao inverter e comer letras. Enfim...o ato de escrever é um esforço, para mim, no sentido concreto, e devo admitir que ja deixei de escrever muita coisa por esta razão. A sorte é que o escrever, no sentido criativo, é igualmente forte, então, o prazer supera a difculdade, e é sempre gratificante no final. Como uma estratégia de sobrevivência, me habituei a escrever o máximo na cabeça para quando sentar não ter que ficar muito tempo lutamndo com as teclas, o texto ja vem quase pronto.

Virgínia
A mestra internanta

Pois é, turma, definitivamente, se sou boa de escrever, sou ruim de computador mesmo...Postei duas mensagens ontem e elaS FORAM PARAR EM ALGUM LUGARDO MUNDO QUE NÃO É AQUI...(Ah, sim, apertar sem querer o caps lock faz parte e a preguiça de consertar também...)
Então estou tentando de novo e já me ocorreu que isto da um conto, de mensagens de blog que - como eram antigamente as garrafas jogadas ao mar - vão parar em lugares inesperados e geram histórias, etc, etc, etc...a idéiA ESTÁ NA MESA, (apertei de novo) , espero, como muitas outras que vão rolar neste nosso banquete lietrário, AMÉM! ( agora foi de propósito!).

Vou apertar o botão e levar um papo ao pé do ouvido do computador, que é como nos entendemos, pra ver se desta vez acerto e a mensagem entra.

E para começar, gostaria de ouvir de voces alguma coisa sobre idéia, sobre como acham mais facil acha'-las e aramazena-las, como convivem com elas na cabeça até que resolvam se vao aproveitar ou nao, a inveja de ver uma idéia sua realizada - bem- por outro, ou de nao ter pensado antes em algo que acha genial, enfim, idéias, idéias, idéais - como elas fazem parte da sua vida?

Virgínia

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Presença! =]


ôpaaa, já estamos no ar!!

=]

Vim marcar presença rapidinho, pois estou sempre correndo! =/

Estou curiosa para saber (como faltei duas aulas) como a idéia do blog surgiu?! Uma boa maneiraa de começa-lo seria relembrando né?

Boom sem duvidas foi uma excelente idéia!!!


beijoss para todos!! ;*


P.s.: Grupo já estou me atualizando, e por sinal comecei a escrever sobre uma nova idéia (as antigas não me deram muita inspiração...) Mandarei para o imail de todos para receber as críticas. bjos

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

VAI FICAR IRADO O NOSSO BLOG!!!

Achei irado a galera aderir geral!!! Vamos consertar isso, mestra... Estou feliz pelo blog ter sido bem aceito pelos alunos. Melhorou? Tenho que cuidar da minha linguagem como cuido do meu estomago. E olha que cuido super bem!!! rsrsrs.
bjs crepitantes para todos...
Helô

P.S. 1- Não esqueçam de assinar a postagem se estiverem logando com o "itaipavacontos"!

P.S. 2- Marise, publiquei o que vc tinha deixado no rascunho!

Ai estamos

E se ai estamos noutro lugar não estaremos, a menos que sejamos esquizofrenicos ou se trate de interneti. Então estou aqui, e voces estão ai e nos todos estamos nu blogue.
Que bueno e Parabenes
Manda Bala
Guga
Comecei bem. Sumiu o que eu escrevi antes!
Marise
Aí meninas, vamos começar a inovar na escrita. Primeiro as cores, a fonte, depois
vamos ver se sai mesmo um conto!!!!
Achei o nome ótimo! E não impede que tenhamos nossos "devaneios literários"
ou "desabafos em letras". Bem se eu não escrever com talento, pelo menos, vou
desabafar com classe!!!!
Bjs, e boa sorte para nós!
Marise
Torcendo Itaipava Contos seja o melhor blog que ja existiu!!!Se não, ao menos muito bom!!
Heloisa

Pelo visto vc trabalha rapido.

Também tô nessa !!!!

Este nosso blog vai ficar tão famoso quanto nós !!!!

Ana Lidia.

Viva Itaipava contos

Viva! Crepe literário em ação!!! Ou a gente aprende a escrever ou engorda feliz...Boa sorte para nós!

Bom começo!

Nossas noites no Nu Crepe são muito divertidas. O Blog também será!